quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A janela



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Foto in
http://www.faraonepvc.com/


Todos os dias na rua
defronte de uma janela.
Que barbaridade a tua,
porque não chegas a ela?
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O quente sol no horizonte
com todo o peso d'agosto
e eu na rua e eu defronte
da tua janela posto.
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Dezembro, o mês inclemente,
o sangue nas veias gela,
e eu na rua e eu em frente,
em frente dessa janela.
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Sempre esta ideia constante!
Ah! meu Deus! Se hoje a visse...
Se ao menos um só instante
a janela hoje se abrisse...
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E nunca se abre, Senhor!
Abrem-se os lábios num riso;
o botão abre-se em flor;
abre-se o teu paraíso;
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abre o seu cálice a rosa;
Abre-se o mar tão profundo:
só tu, janela teimosa,
nunca te abriste um segundo.
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Pois fica sempre fechada
como a noite mais escura,
como a alma condenada,
como negra sepultura.
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Mas o que estou a dizer?
Meu Deus, meu Deus, o que disse!
Ai, que infinito prazer
se a janela hoje se abrisse!
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Guilherme Braga,
in Correio da Feira, 22/o1/1919