domingo, 6 de junho de 2010
Chegaram as máquinas...
chegaram as máquinas para talhar a cidade que vem
das águas cresce a obra do homem, ouve-se um lento grito d'espuma e suor...
na memória ficaram os sinais dos bosques ceifados,
as dunas desfeitas e algumas casas abandonadas
estenderam-se tubos prateados, onde escorre o negro líquido
levantaram-se imensas chaminés,
serpenteiam auto-estradas na paisagem irreconhecível do teu rosto
onde estarão as tâmaras maduras de tuas palmeiras?
e o perfume intenso das flores debruçando-se ao sol?
que murmúrio terão as pedras do teu silêncio?
a memória é hoje uma ferida onde lateja a Pedra do Homem,
hirta como uma sombra num sonho
e as aves? frágeis quando aperta a tempestade... migraram como eu?
aonde caminhas, Doce Moura Encantada?
ouço o ciciar dos canaviais dentro do sono, adivinho teu
caminhar de beijos no rumor das águas
tuas mãos de neve recolhem conchas, estrelas secretas, luas incendiadas...
que o mar esconde na respiração das marés
estremecem-me nas mãos os insectos cortantes do medo, em meu peito
doido ergue-se esta raiva dos mares-de-leva...
Al Berto, O Medo
(poema dedicado a Sines)
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ARQUITECTURA e POESIA