segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma cidade não aguarda que a edifiquem...















Uma cidade não aguarda que a edifiquem: a si pró-
pria se reergue, com os braços que tem.
Ampliada aos quatros ventos, habitada pelos de
todos os ofícios.
Assim: de impartilhadas searas, como se de trocados
corpos em quartos de versículos murmurados.
Escancarada a quem a vem povoar, de muros onde,
sob as estátuas decapitadas, de súbito estoura
a jubilosa coroa das peónias.
E que não se fale de arrojados, o dorso agatanhado,
nos beiços um mosto de bílis, sem que se
possa inscrever a seguinte notícia:















Rasgámos a rua rente ao flanco de serra, amontoá-
mos as pedras da parede da casa, espalhámos
o colmo. E arrecadámos o estrume, e reco-
lhemos o gado, e espertámos o fogo.
O que, todos vêem, se declara nessa glória de exten-
sões difusas, no calor aguado, em que «a cida-
de se estende em círculos de jade / irradiando
relâmpagos como a plumagem de quetzal».















Mário Cláudio