segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ode ao edifício

Escavando
num sítio,
golpeando
numa ponta,
estendendo e polindo



















sobe à labareda construída,
a edificada altura
que cresceu
para o homem.



















Oh alegria
do equilíbrio e das proporções.
Oh peso utilizado
de materiais indóceis
desenvolvimento do todo
às colunas,
esplendor de leque
nas escalas.
De quantos sítios
disseminados na geografia
aqui sob a luz veio a elevar-se
a unidade vencedora.

A rocha fragmentou seu poderio,
laminou-se o aço, o cobre veio




















misturar a sua robustez com a madeira
e esta, recém-chegada dos bosques,
endureceu sua grávida fragrância.

Irmão cimento escuro,
tua massa os reúne,
tua areia derramada
aperta, enrola, sobe



















vencendo piso a piso.
O homem minúsculo
verruma
sobe e baixa.
Onde está o indivíduo?

É um martelo, um golpe
de aço sobre o aço
um ponto do sistema
e sua razão se soma
ao âmbito que cresce.
Foi preciso deixar por terra
seus pequenos orgulhos
e levantar com homens uma cúpula,




















erigir entre todos
a ordem
e partilhar a simplicidade metálica
das inexoráveis estruturas

Todavia
tudo sai do homem.
Ao seu chamamento
acodem peças e elevam-se muros,
entra a luz nas salas,



















o espaço é cortado e repartido.

O homem
separará a luz das trevas



















e assim
como venceu o seu orgulho fútil
e implantou o seu sistema
para que se erguesse o edifício
continuará a construir
a rosa colectiva,
reunirá na terra
o material intratável da felicidade
e com razão e aço
irá crescendo
o edifício de todos os homens.

Pablo Neruda
Tradução de Anthero Monteiro