sábado, 5 de junho de 2010
Oscar Niemeyer
Oscar Niemeyer
poeta-escultor.
Arquiteto do Rei.
Linhas no espaço sideral,
curvas no infinito
das constelações virtuais.
Criando avarandados coloniais
rampas cósmicas.
Ateu e comunista
Materialista das catedrais
humanas,
das capelas espirituais.
Como mãos votivas
numa prece eternizada
no concreto armado
da Catedral ecumênica.
Todas as mãos candangas
paranaenses mineiras
pemambucanas
todas as mãos nortistas
paulistas
de todos os quadrantes
e sextantes
sustentam o universo
nacional.
No alto passam as
nuvens cintilantes
e os aviões da Real e da Panair
uma conspiração de anjos
burocratas diplomatas
voam políticos, empreiteiros
e trovejam e relampagueiam
tempestades
e fogos de artifício.
Sensual ou curvilíneo
em formas simbolistas:
mãos redes seios.
Devaneios.
Talvez abstrações
com intenções figurativas.
Ou seriam estruturas-esculturas?
Barrocas, modernistas?
Nas simetrias liberadas
e nas geometrias depuradas:
teatralidade.
Volumes espaços alturas
verticalidade
ou extremidades em vértice
a eludir o estático
e o majestático
— contra as regras
e as limitações.
Niemeyer é tão ou mais monumental
ainda que sóbrio
mais leve quando concreto
e funcional
mais denso quanto poético.
Surpreendente.
Sem concessões à trivialidade
porque genial.
Todas a artes irmanadas
no mármore, nos arcos
ancestrais
abóbadas sonoras
colunas dançarinas,
vitrais.
António Miranda