segunda-feira, 27 de abril de 2009
Ah! Se acontecesse enfim qualquer coisa!
Ah! Se acontecesse enfim qualquer coisa!
Se de repente saísse da terra um braço
e atirasse uma rosa
para o espaço!
Mas não.
Lá está o sol do costume
com a exactidão
duma bola de lume
desenhada a compasso...
...sol que à noite continua
a andar em redor
nas entranhas da lua
- que é sol com bolor...
e desde que nasci,
haja paz ou guerra,
nunca vi outra coisa.
Ah! Como queres que acredite em ti
– braço que hás-de romper a terra
e atirar uma rosa?
José Gomes Ferreira, «A Morte de D. Quixote» in Poesia I,
Lisboa, Portugália Editora, 1969