O filho pregou-lhe um estaladão e disse:
- Em minha casa quem reina sou eu, e agora, só para não te armares em esperta colonial, não há mais incestos ibéricos. E isto é Portugal, e é meu, e vou montar um negócio em Guimarães e já vais ver!
Mas, depois, teve azar, porque descambou toda a gente e apareceram uns sornas duns sanchos que se limitavam a conquistar mais umas assoalhadas indo a torto e a direito para a palha das lezírias com moçoilas alentejanas.
E morreu tudo com sífilis e Sida por falta de higiene e cuidado. E até chegarem ao Algarve foi preciso esperar séculos para os alemães e os ingleses se interessarem pela indústria do ramo.
Entretanto, quem tomou conta disto foi o Dinis – um poeta que não gostava lá muito de mulheres – e perguntou à esposa, a Isabel,
- O que é que levas no regaço?,
e ela disse
- flores, meu senhor.
De facto, eram papoulas de ópio. Então, o marido canonizou-a imediatamente para ela ir praticar a bondade para bem longe de Leiria.
E pronto, por gostar muito de marinheiros, o homem mandou plantar um pinhal que desse madeira para o barco dos rapazes. Mas só muito mais tarde é que o Henrique, o navegador, percebeu e jogada e abriu, na ponta de Sagres, uma casa de putas de luxo, digna desse nome, e que satisfizesse, também, os seus legítimos e promíscuos desejos.
Claro está que, antes de mais nada, foi preciso ensinar aos mancebos a arte de foder sem preconceitos nem limitações. E por outras razões, por exemplo, porque todas as princesas já estavam acasaladas com os anglo-saxões mais dotados e poderosos da comunidade. Parece que por ali era tudo frígido e ninguém tinha filhos varões...
E lá foi a Ponta de Sagres em peso evangelizar o mundo, teimando sem tréguas – com todo o credo e toda a cor – assegurar esta estranha espécie por inseminação artesanal. Mas, como naquela altura, havia outros interesses em jogo, até o machão do Colombo perguntou a um tal D. João II:
- Que segredo têm as vossas naus que vão a todo o lado?
Mas, coitado, o rei respondeu-lhe:
- Se estás tão seguro que a Índia é aí, filho, aproveita o fraquinho que a Católica tem por ti e lhe baralha a geografia. Olha que para descobrir a América no mapa basta um iate emprestado...
É evidente que por cá a coisa não deu certo e a bagunça degenerou num jovem imberbe e paranóico de olhos azuis, o Sebastião. Estando mais ou menos a par da terapia usada pelos seus antepassados, montou um cavalo branco e levou consigo dois galgos persas de trela bem curta.
Foi para Marrocos tentar verificar se aqueles animais eram assim tão bons na planície como rezam as alcovas e convidá-los a fazer outra vez um cerco apertado. Mas o nevoeiro já só metia ou nojo ou saudade.
E este caso, de tão encoberto, acabou por ser arquivado.
Joaquim Castro Caldas