sexta-feira, 17 de abril de 2009

A rosa mutável







Foto in
www.booksfactory.com




Quando se abre na manhã,
rubra como sangue está.
O orvalho não a toca
com medo de se queimar.
Aberta à luz do meio-dia
é dura como um coral.
O sol assoma nos vidros
só para a ver fulgurar.
Quando nos ramos começam
os pássaros a cantar,
e quando a tarde desmaia
nas violetas do mar.
torna-se branca, tão branca
como uma face de sal.
E logo que a noite toca
branco como de metal,
e as estrelas avançam
enquanto se esconde o ar,
no risco fino da sombra
começa-se a desfolhar.

Federico García Lorca, in
Eugénio de Andrade, Poemas de García Lorca,
Porto, Limiar, 1979, 4.ª ed.