sexta-feira, 10 de abril de 2009
Floriram por engano as rosas bravas
Foto in
cvc.instituto-camoes.pt
Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze – quanta flor –, do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?
Camilo Pessanha, Clépsidra e Outros Poemas,
Porto, Anagrama, 1980