terça-feira, 26 de maio de 2009

À flor da pele











Nunca vi nervos à flor da pele, mas sinto
a doçura do pólen e deixo a língua escorregar
pelo teu corpo. Dizem que os nervos se reflectem
nos intestinos. A flor dos intestinos cura-se
com a flor do iogurte. É um universo completo:
da flora à fauna intestinal, de dobra em dobra,
a vista da montanha, a festa dos vales
e pequenos seres despertando
no côncavo, no invisível cheio de promessas.
Deve ser terrível ter os nervos à flor da pele,
acalmá-los com massagens suaves até murcharem
ou então deixar os nervos à superfície
como um ouriço-cacheiro, um ouriço-do-mar
se viver no litoral. É um mundo perigoso.
São horas: Levo a minha pele à rua
presa pela correia do relógio.

Rosa Alice Branco, Da Alma e dos Espíritos Animais,
Porto, Campo das Letras, 2001

Rosa Alice Branco estará amanhã, quarta-feira, na sessão das Quartas Mal-Ditas do Clube Literário do Porto, coordenadas por Anthero Monteiro. Lerão poemas, para além da poeta e do coordenador: Amílcar Mendes, António Pinheiro, Isamar, Luís Carvalho, Mário Vale Lima, Marta Tormenta e Rafael Tormenta. No piano, Rosa Brandão. Sessão subordinada ao tema: ROSAS BRANCAS PARA ALICE.