sábado, 9 de maio de 2009

O relógio




















Cordas, ponteiros, números e tanta
Coisa lá dentro! Finas rodas de aço!
Ao seu comando, débil de cansaço,
Ora a gente se deita, ora levanta.

A voz do tempo! Sossegada canta
Imperturbável, dominando o espaço.
Nova manhã desperta no regaço
Da noite, como surge a flor na planta.

O Passado, o Presente sempre iguais!
O mesmo giro, sempre, sempre... Aquela
Pontualidade que não pára mais!

Já nem te oiço sequer! Nem sinto o mundo!
Vai-se-me a vida sem eu dar por ela...
Um segundo, um segundo, outro segundo...

Cabral do Nascimento, Cancioneiro,
Porto, Editorial Inova,1976

João Cabral do Nascimento, poeta e novelista madeirense, nasceu em 1897 (Sé - Funcahal) e morreu em Lisboa em 1978. Formado em Direito, dedicou-se, todavia, ao ensino.