segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ao rubro ímpeto da romãzeira




















Dia dos meus anos hoje. Parabéns sabem-me
a condolências. Setembro é um mês de vogais
melancólicas. Tenho passado quase todos os dias
com um sabor a milagre na boca. Lá está
a mesma romãzeira oferecendo suas romãs
abertas suas fêmeas feridas escarlates.
É já velha tem troncos secos e ossudos
mas é jovem o interior de seus frutos
e de seus sumos. Saúdo-a e digo-lhe:
- À tarde vou ver-te. Não quero festa
de anos nem bolo de velas nem a imbecil
cantilena de parabéns mas havemos de brindar
em silêncio só as duas a esse antigo tempo
que ainda nos habita e à felicidade
que nunca aconteceu. Talvez o rubro ímpeto
que te faz continuar a dar romãs me dê a mim
recados desse país natal de que sou órfã desde
sempre antes mesmo de nascer.

Teresa Rita Lopes, Afectos,
Lisboa, Editorial Presença, 2000, 1.ª ed.