segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Que luz feliz estar a ver as árvores...












Foto A.M.



Que luz feliz estar a ver as árvores
a rendilhar a madrugada fina
de um Dezembro subtil em que se esparze
só a memória da ternura antiga.
Leve persiste a nitidez das árvores.
Mas se, às vezes, se contrista
é porque o voo, atropelando o instante,
rascunha o susto na pressa da retina.
Desembacia-se a subtilidade
de estar a ver. Vem acima
a memória feliz de havermos visto as árvores
e de estarmos a vê-las do fundo de outra vida.

Fernando Echevarría, Geórgicas,
Porto, Afrontamento, 1998

N. em 1929. Cursou Humanidades em Portugal, Filosofia e Teologia em Espanha.
Exilado em Paris desde 1961, parte para Argel em fins de 1963, regressando àquela cidade em meados de 1966. Aí reside desde então.