sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Quando eu morrer...









Fot
o Anthero Monteiro




Quando eu morrer batam em latas...
(Mário de Sá-Carneiro)


quando eu morrer
cair abrupto
olhem-me apenas
de olhar enxuto
nem água benta
nem flores de luto

deixem-me ali
sob uma árvore
num chão de folhas
nunca de mármore
não quero então
ter outro cárcere

que a minha morte
não a deplorem
só as magnólias
o orvalho chorem
tristes transidas
só elas orem

elas me amaram
eu as amei
de outros amores
não sei não sei
não digam nada
não vale a pena
deixem que a noite
seja serena

quando eu zarpar
para a viagem
sem a coragem
de me matar

Anthero Monteiro, Desesperânsia,
V.N.Gaia, Corpos Editora, 2003