segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Idílio







Ceres, a Deusa das Searas,
na mitologia romana,
equivalente à deusa grega
Deméter, a que alude
o poema de Teócrito.






Nos mais profundos leitos feitos de junco fresco
e de folhas de vinha pouco antes cortadas,
alegres nos deitámos. Sobre nossas cabeças
os choupos e os ulmeiros seus ramos agitavam.

De uma gruta, a dois passos, às Ninfas consagrada,
ouvia-se em murmúrios a água que escorria...
E pelo sol crestadas penavam as cigarras,
a sombra procurando nos espinhos das silvas.

Mais ao longe coaxavam ligeiramente as rãs;
pintassilgos cantavam; a rola suspirava;
as abelhas uniam ao canto das calhandras
seu dourado zumbido sobre a fonte sagrada...

E rescendia a frutos. Sorvia-se o aroma,
em todos essas pomos, do Outono fecundo:
as maçãs e as pêras empilhavam-se em montes;
e vergavam-se os ramos, carregados de abrunhos.

Abriu-se então um vinho, cuja cera datava
de quatro anos antes...
-------------------- - Que sempre me sorria,
terminadas as ceifas, a Deusa das Searas,
com as mãos enfeitadas de papoulas e espigas!


Teócrito, Idílios,
tradução de David Mourão-Ferreira in
Vozes da Poesia Europeia I - Colóquio Letras n.º 163,
Fundação Calouste Gulbenkian, Janeiro-Abril 2003

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Poeta grego de maior destaque do período helenístico (séc. III a.C.),
que influenciou a poesia bucólica posterior, como a de Virgílio.