domingo, 20 de setembro de 2009
Oração
Foto
A.M.
Outono. Morre o dia.
Cai sobre as coisas plácidas e calmas
um véu de sombra e de melancolia
que dulcifica e embrandece as almas.
Todo o meu ser se invade
de enervantes e místicas doçuras,
de mansidão, de paz, de suavidade,
de sentimntos bons, de ideias puras.
No coração perpassa
uma piedade e compaixão serena
por todos os validos da desgraça,
por tudo quanto sofre e quanto pena:
pelos pequenos entes,
sem abrigo, sem lar e sem carinho,
que são como avezinhas inocentes
postas por mão cruel fora do ninho;
pelos encarcerados
que lançam, dentre as grades da cadeia,
ao ar, à luz, aos montes afastados
a vista aflita e de amargura cheia;
pelos que vão pedindo
de porta em porta o pão de cada dia,
tristes, que sempre a morte olham sorrindo
porque ela unicamente os alivia;
pelos que andam distantes,
entre cruezas, fomes e perigos,
sentindo a nostalgia lancinante
da família, da pátria, dos amigos;
e numa emoção crente,
numa fé viva, forte e benfazeja,
a Deus suplico fervorosamente
que os guie, que os socorra, que os proteja.
Augusto Gil, Musa Cérula, 1894