segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Teatro dos dias


















Ninguém cheira melhor
nestes dias
do que a terra molhada: é outono.
Talvez por isso a luz,
como quem gosta de falar
da sua vida, se demora à porta,
ou então passa as tardes à janela
confundindo o crepúsculo
com as ruínas
da cal mordida pelas silvas.
Quando se vai embora o pano desce
rapidamente.

Eugénio de Andrade, Ofício de Paciência, 1994