quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ma bohème (fantaisie) / A minha boémia (fantasia)




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Je m' en allais, les poings dans mes poches crevées;
Mon paletot aussi devenait idéal;
J'allais sous le ciel, Muse! et j' étais ton féal;
Oh! là là! que d' amours splendides j' ai rêvées!

Mon unique culotte avait un large trou.
— Petit-Poucet rêveur, j' égrenais dans ma course
Des rimes. Mon auberge était à la Grande-Ourse.
— Mes étoilles au ciel avaient un doux frou-frou.

Et je les écoutais, assis au bord des routes,
Ces bons soirs de septembre où je sentais des gouttes
De rosée à mon front, comme un vin de vigueur;

Où, rimant au millieu des ombres fantastiques,
Comme des lyres, je tirais des élastiques
De mes souliers blessés, un pied près de mon coeur!

Arthur Rimbaud



Lá ia eu, mãos enfiadas nos rotos bolsos,
o casaco a tornar-se em algo ideal;
lá ia eu sob os céus, ó Musa, e era-te leal;
sonhando – ah! – quantos amores maravilhosos!

Desfiavam-se-me as calças – e eu só tinha aquelas –
e deambulando, polegarzinho sonhador,
fazia versos. Minha estalagem era a Ursa Maior.
Sussurravam no espaço minhas doces estrelas.

Eu ouvia-as, sentado nas bermas do caminho,
nas noites de Setembro, com o orvalho na face,
como se foram gotas de um vigoroso vinho;

Ali, dobrado, entre sombras, rimando em surdina,
dedilhava, como se de uma lira se tratasse,
os atilhos dos pobres sapatos em ruína.

Tradução de Anthero Monteiro