terça-feira, 29 de setembro de 2009

Soneto de Outono





Foto
Anthero Monteiro






Já o outono deixou toda a folhagem
Das árvores. As noites são compridas.
As folhas secas caem, dando a imagem
Das irremediáveis despedidas.

Os poentes são longos. Na paisagem,
Campos lavrados, terras remexidas
Dão a impressão de coisas que reagem:
Eternas vencedoras e vencidas.

Mas há serenidade e confiança
Na vida. A terra loira enfim descansa
De florir os lilases e os trigais.

- Mas tu partiste... E nesse próprio dia
Pus-me a chorar em frente da invernia,
Como se o sol nunca voltasse mais!

Sílvio Rebelo, Poesias,
Edição de Isabel Rebelo, 1991

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Sílvio Rebelo nasceu em 1879 no Rio de Janeiro, filho de um emigrante de Fafe, onde a família se veio instalar, tendo posteriormente mudado para Lisboa.
Estudou na Suíça, preparando-se para uma carreira comercial.
Em 1899, a família vai residir para Peniche.
Frequenta a tertúlia de Nunes Claro.
Colabora em revistas e jornais, publicando poesia, não tendo os seus livros passado de projectos.
Inscreve-se, entretanto, na Escola Médico-Cirúrgica, concluindo o curso de Medicina com uma tese sobre a Sífilis.
Nesse mesmo ano, é o primeiro classificado, entre doze concorrentes, no concurso para médicos do quadro da Junta Consultiva do Hospital de S. José.

Em 1907, visita, em Génova, uma prima com quem irá casar dois anos depois, vindo viver para Lisboa. Deixara, entretanto, de escrever poesia, passando a trabalhar no Instituto Bacteriológico, onde faz importantes experiências laboratoriais.
Em 1911, é nomeado lente catedrático da Escola-Médico Cirúrgica, que a República transforma na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Foi o primeiro docente da nova cadeira de Farmacologia. Dedica-se à publicação de trabalhos científicos.
Em 1917 é chamado a cumprir serviço militar como capitão-médico miliciano, logo graduado em major, embarcando para França, onde dirige, em Hendaia, o Hospital do Corpo Expedicionário Português.
Regressa à sua Faculdade, ao seu laboratório, aos seus trabalhos científicos em 1919.

Em 1932, está na Suíça para cura de uma doença. Pronto para regressar a Portugal, sofre um acidente, em 15 de Maio do ano seguinte, que lhe põe fim à vida.
Os jornais de Lisboa falam da perda do eminente cientista e não esquecem a sua vertente de poeta. Lisboa passou a ter uma rua com o seu nome.