sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Na mão de Deus
Jardim Anthero
de Quental, onde
o poeta se suicidou
em 11/11/1891
Foto in
www.eureka. reservation.com
Na mão de Deus, na sua mão direita,
descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da ilusão
desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais com que se enfeita
a ignorância infantil, despojo vão,
depus do Ideal e da paixão
a forma transitória e imperfeta.
Como criança em lôbrega jornada
que a mãe leva ao colo agasalhada
e atravessa sorrindo vagamente
selvas, mares, areias do deserto,
dorme o teu sono, coração liberto,
dorme na mão de Deus eternamente.
Antero de Quental, Sonetos
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Foi também no dia 11 de Setembro, em 1891, que Antero de Quental se suicidou.
Este soneto, ainda que não fale do Outono, é o seu testamento poético.
Nessa fase final da sua vida, o poeta tinha evoluído de um panteísmo romântico para uma ascese de carácter budista.
Escrevi agora o soneto sem nada consultar, pois, na minha juventude, aprendi de cor dezenas de sonetos seus: sempre era o poeta meu homónimo, que tinha como meu mestre.
Também o poeta espinhense Manuel Laranjeira o considerava o poeta- mor e só agora, depois de ter escrito 3 livros sobre o autor de Comigo, é que reparo na seguinte coincidência:
Antero suicidou-se numa data em que o algarismo 1 se repete várias vezes: 11/11/1891.
Laranjeira suicidou-se numa data em que é o número 2 que se repete também várias vezes: 22/02/1912.
E parece-me agora, claramente, que, dada a admiração de Laranjeira pelo grande sonetista, a data do suicídio daquele não terá sido mera coincidência.
E repare-se ainda: Antero desfechou sobre si 2 tiros do seu Lefauchaux.
E Laranjeira inverteu as coisas e disparou apenas 1 tiro do seu revólver.
Interessante, não é?...