segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Pálida e loira
Foto in
pontedelima.
blogspot.com
Morreu. Deitada no caixão estreito,
Pálida e loira, muito loira e fria,
O seu lábio tristíssimo sorria
Como num sonho virginal desfeito.
Lírio que murcha ao despontar do dia,
Foi descansar no derradeiro leito,
As mãos de neve erguidas sobre o peito,
Pálida e loira, muito loira e fria...
Tinha a cor da rainha das baladas
E das monjas antigas maceradas,
No pequenino esquife em que dormia...
Levou-a a morte em sua garra adunca!
E eu nunca mais pude esquecê-la, nunca!
Pálida e loira, muito loira e fria.
António Feijó, Líricas e Bucólicas, 1884
Belíssimo soneto de um recorte claramente parnasiano. É tão belamente outonal que, um dia, não resisti a dizê-lo, em voz alta e de cor, para quem passava, junto ao monumento erguido em sua memória (ver foto) em Ponte de Lima, sua terra natal (1859). Haveria de falecer em Estocolmo em 1917.