quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Instantes










Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito.
Relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria até menos higiénico.
Correria mais riscos, viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos sopa.
Teria mais problemas reais
e menos problemas imaginários.
Eu fui uma destas pessoas que viveu sensata
e produtivamente cada minuto de sua vida.
Claro que tive momentos de alegria
mas, se pudesse voltar a viver
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida,
só de momentos. Não percam o agora.
Eu era um desses
que nunca ia a parte alguma sem um termómetro,
uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva,
um pára-quedas.
Se voltasse a viver viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram,
tenho oitenta e cinco anos,
e sei que estou morrendo...

Nadine Stair

Este poema circulou vários anos atribuído a Jorge Luís Borges, embora não se encontre na sua obra completa. Descobriu-se depois que, afinal, foi escrito por uma escritora norte-americana, mais ou menos desconhecida, chamada Nadine Stair, que o publicou em 1978, oito anos antes da morte, em Genebra,com 86 anos, do célebre escritor invisual argentino.
O poema foi publicado por uma revista argentina atribuído a Jorge Luís Borges, mas a viúva do poeta, Maria Kodama, obrigou-a a rectificar o erro, ainda que só 8 anos depois, após investigações. Kodama acha que o poema não tem valor literário e desvirtua a mensagem da obra de Borges, pois tenta transmitir um sentido da vida completamente materialista, sem nenhuma busca de perfeição espiritual ou inquietação intelectual.