segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O cisne assado (The roast swan)











Num lago fiz moradia
quando era cisne um dia
e era belo e aperaltado.
Mas ai de mim! ai de mim!
que agora estou assim
negro e totalmente assado.

O assador gira gira
e eu pronto a sair da pira
vai-me servir o criado.
E ai de mim! ai de mim!
que agora estou assim
negro e totalmente assado.

Repouso num prato agora
já não voo como outrora
rangem dentes, estou tramado.
E ai de mim! ai de mim!
que agora estou assim
negro e totalmente assado.

De «In taberna», in Carmina Burana,
tradução livre de Anthero Monteiro

Carmina Burana: colecção de canções e poemas medievais, da autoria de monges e eruditos viajantes, encontrados num rolo de pergaminho da Biblioteca da antiga Abadia de Benediktbeuern, na Alta Baviera. A colecção foi editada com este título em 1847 por Johann Andreas Schmeller e seria posteriormente utilizada para o libreto da cantata homónima (1935/36) do músico alemão Carl Orff.
Os poemas estão imbuídos
da antiga concepção de que a vida humana está sujeita aos caprichos da roda-da-fortuna e, portanto, à mercê da eterna lei da mutabilidade.
Daí que o espírito de "carpe diem" perpasse também pelos textos da colectânea, no sentido de que se impõe aproveitar os bons momentos favoráveis da Sorte, antes que venham aqueles que nos são menos propícios.