quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pequeno poema sobre o fim do mundo




Foto
Anthero
Monteiro








Quando chegar o fim do mundo,

A abelha estará sobrevoando a espora-de-galo,
O pescador estará consultando a rede brilhante,
Os delfins estarão saltando alegres no mar,
Os pardais estarão a reunir-se sobre o telhado,
A pele da cobra brilhará como sempre.

Quando chegar o fim do mundo,
As mulheres irão para debaixo dos guarda-sóis,
O bêbado adormecerá em algum lugar sobre a relva,
Os verdureiros farão suas vendas gritando,
O barco de vela amarela chegará à ilha,
As violas soarão no ar,
Abrindo a noite estrelada.

Quem esperar raios e trovões
Vai decepcionar-se;
Quem aguardar um sinal e trombetas de anjos,
Nem acreditará que o fim já chegou.

Enquanto o sol e a lua brilharem lá em cima,
Enquanto o insecto visitar a rosa,
Enquanto crianças coradas ainda se alegrarem,
Ninguém acreditará que o fim já chegou.

Até que o velhote grisalho, que poderia ser profeta,
Mas não é profeta, porque o seu trabalho é outro,
Dirá ao amarrar tomates:
Nem haverá um outro fim do mundo.

Czeslaw Milosz


Poeta e ensaísta polaco, nascido em Kédainiai, na Lituânia, em 1911.
Foi Prémio Nobel da Literatura em 1980.
Faleceu em Cracóvia em 2004.