sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Meto-me para dentro...






Foto in
cigarranapaisagem.
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Meto-me para dentro e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas-noites,
E a minha voz contente dá as boas-noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.


Alberto Caeiro, in Gastão Cruz (selecção), Ao Longe os Barcos de Flores -
Poesia Portuguesa do Século XX, Lisboa, Assírio & Alvim, 2004