quarta-feira, 11 de março de 2009

Exiguidade




Pólux e Castor na
constelação dos
Gémeos

(Foto in

teknospace.no.sapo.pt)



de repente
a abóbada cresceu
ergueu-se ainda mais
e levou os meus olhos agarrados
a pólux e castor

foi de lá que me olhei
dobrado
amarfanhado
derretido
e só então percebi
da imensidão dos astros
a imensa imensidão da minha pequenez

até a dor é bem maior do que eu
estou reduzido à água do meu pranto
e ao grito que sacode na amplidão
as colinas do tempo e as colunas do espaço

e dizes que virás ao meu primeiro apelo
talvez esse meu grito te desperte
e chegues num relance com o vento
mas não me encontrarás

porque a brisa da noite içou-me aos céus
e transformou a minha água em névoa

e que vais tu fazer do eco do meu grito?

Anthero Monteiro, Desesperânsia,
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2003