sexta-feira, 13 de março de 2009
Soneto à Lua
Foto in
art4linux.org
Ó Lua, ó Lua!, quantas vezes, quantas,
Ungindo os montes dum clarão bendito,
Vestes de branco as árvores e as plantas,
Tiras o crepe às rochas de granito!
Além, detrás das serras te alevantas,
E, descrevendo a curva do infinito,
Tombas do mar nas águas sacrossantas...
Pálida noiva desse leão maldito!
Banhas de luz, com o teu rosto humano,
Os que passam a noite sobre o Oceano,
Quase perdidos, num baixel sem mastros...
E eu que leio no azul, como um Caldeu,
Não compreendo esse alfabeto - o céu,
Sem ti, letra maiúscula dos astros!
Leça, 1885
António Nobre, Primeiros Versos e Cartas Inéditas,
Lisboa, Editoral Notícias, s/ data