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me atraz novidades:
«o grilo é um pastor de estrelas...»
entorno enternecitudes. assim em
emochões.
o grilo é rasante, gritante, em negrecido.
um bicho do chão, concluímos.
«mas aí está», diz-me.
«por via do chão ele despe distâncias;
está mais próximo de estrelas, pois...»
entorno espantos, encantos.
«um pastor, guiante?» - eu.
«ah pois e sim. o mais certo apastoreiro!» - ele.
e entrando em explicamentos:
«no canto do grilo as estrelas rebrilham, acendidas.
comungam luz, iluminam poeiras, universias versos.
de tanto desconhecimento em medições
o grilo ganha é abraço com estrelas;
de tanta chãotoria
o grilo estreia é intimidade com a magia»;
mas elas altíssimas, dependuradas,
o grilo aquieto - patas impostas em húmida terra.
mas barbosa:
«estrela é brilho de sonho.
é rebanho manso, em simplicidades disponíveis.
não queira indagar mistérios.
somente dê-se a ouvitudes: ausculte o grilo,
esse pastor de estrelas...»
entorno crenças, desfalências.
arre e pio-me de silêncios.
o grilo é um adormecedor de inquietudes.
cessa o canto, o encanto.
vincadas de negrume, as estrelas grilaram-se
para sonos.
adormecimentos provisórios.
Ondjaki, Há Prendisagens com o Xão ( O Segredo Húmido da Lesma & Outras Descoisas),
Lisboa, Editorial Caminho, 2009 (2002)
Ondjaki (Ndalu de Almeida) nasceu em Luanda em 1977. Licenciado em Sociologia, é, para além de poeta, actor, pintor, romancista, e está traduzido para várias línguas. A sua mais recente obra poética, lançada este mês, tem por título Materiais para Confecção de um Espanador de Tristeza.
Como se vê, a sua linguagem poética, tal como a de Mia Couto, estrebucha de tanto que faz viver a Língua Portuguesa.