...a minha mulher teve vergonha da sua beleza.
(Foto in
Au féminin.com)
Hoje, domingo, nasceu uma filha-magnólia.
Hoje, domingo, um cavaleiro atravessou a cidade,
sem que ninguém o visse.
Hoje, domingo, foram desenterrados os tesouros
submersos pelas tuas lágrimas.
Hoje, domingo, minha mãe não regressou
do cemitério.
Hoje, domingo, uma pradaria caiu do céu
antes de sobrevoar, durante uma hora, a nossa região.
Hoje, domingo, o geneticista olhou pela primeira vez
por uma janela cega.
Hoje, domingo, sábado fez amor com segunda-feira.
Hoje, domingo, o campo reverdecido ficou prisioneiro do trigo.
Hoje, domingo, sobre a casa Pogor, as nuvens imitaram
a cabeça do Melro.
Hoje, domingo, os avós releram
as suas certidões de nascimento originais.
Hoje, domingo, a minha mulher teve vergonha
da sua beleza.
Hoje, domingo, o tipógrafo adoptou
uma letra de ouro.
Hoje, domingo, a máquina de escrever
aprendeu uma língua morta, hindu.
Hoje, domingo, o muro em que escrevi
caiu em cinzas.
Lucian Vasiliu, O Melro da Casa Pogor, 1994
Tradução de Anthero Monteiro
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Lucien Vasiliu, poeta, romancista, bibliotecaário, conservador de museu literário, nasceu, filho de padre, na Moldávia, Roménia. É autor dos livros de poesia : O Filho do Homem (1986), O Melro da Casa Pogor (1994), Lucianogramas (1999).