sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sexta-Feira da Paixão














Alguns estão dormindo de tarde,
outros subiram para Petrópolis como meninos tristes.
Vou bater à porta do meu amigo,
que tem uma pequena mulher que sorri muito e fala
pouco, como uma japonesa.
Chego meio prosa, sombras no rosto.
Não tenho muitas palavras como pensei.
"Coisa ínfima, quero ficar perto de ti".
Te levo para a avenida Atlântica beber de tarde
e digo: está lindo, mas não sei ser engraçada.
"A crueldade é o seu diadema..."
O meu embaraço te deseja, quem não vê?
Consolatriz cheia de vontades.
Caixa de areia com estrelas de papel.
Balanço, muito devagar.
Olhos desencontrados: e se eu te disser, te adoro,
--- e te raptar não sei como dessa aflição de março,
--- bem que aproveitando maus bocados para sair do
--- esconderijo num relance?
Conheces a cabra-cega dos corações miseráveis?
Beware: esta compaixão
é paixão.

Ana Cristina César, Um beijo que Tivesse um Blue - Antologia Poética,
V. N. Famalicão, Quasi Ediões, 2005, 1.ª ed.