sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sexta-feira à noite












Sexta-feira à noite
Os homens acariciam o clítoris das esposas
Com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
Contam dinheiro, papéis, documentos
E folheiam nas revistas
A vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite
Os homens penetram suas esposas
Com tédio e pénis.
O mesmo tédio com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
O dedo no nariz
E metem a mão no bolso
Para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
Os homens ressonam de borco
Enquanto as mulheres no escuro
Encaram seu destino
E sonham com o príncipe encantado.

Marina Colasanti

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N. em Asmara, na Etiópia em 1937. Veio para o Brasil em 1948, tendo-se radicado com a família no Rio de Janeiro. Pintora, colabora de periódicos, apresentadora de televisão, roteirista, poeta, autora de crónicas. Em 1994, ganha o Prémio Jabuti de Poesia com Rota de Colisão (1993) e ainda o Prémio Jabuti Infantil ou Juvenil com Ana Z onde vai você? Escreveu mais de 30 obras.