sábado, 2 de janeiro de 2010
O dia de descanso
Ana Luísa
Amaral
Levei minha filha ao parque
e era domingo.
Pelo domingo, o parque
fica como o jardim do paraíso,
abertos os portões e nenhum deus.
Tudo inocência
entre verdura e saibro e cavalinhos
cabalisticamente numerados
até sete.
Levei minha filha ao parque
e era domingo
e não havia o anjo com a espada de fogo.
Não que na minha filha
cuidasse o guardião:
rasteiros os arbustos sem sítio de maçã
e esta filha tinha só três anos.
o anjo era meu só,
velha dez vezes mais e proibida
por regras de baloiço.
Mesmo dez vezes mais, voei, e tudo ausente.
entre palmas e risos,
o anjo, o fogo, a espada, tudo ausente,
e o céu: só céu azul e limpo.
Levou-me a minha filha ao parque
e era domingo,
o dia de descanso do anjo distraído
de expulsar e distraídos
os portões abertos.
Ana Luísa Amaral, Imagias