segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Busque Amor novas artes...
Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, qu nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.
Luís de Camões, Obras Completas - Lírica,
Lisboa, Círculo de Leitores, 2005
Foto A.M.:
Eu e o Luís (de Camões) em Constança.
Como diz Bocage (cito de cor):
"Modelo meu tu és. Mas, oh tristeza!,
se te imito nos transes da ventura,
não te imito nos dons da natureza!"