às vezes deusas esplendorosas
descem furtivamente
as abas do olimpo
e são de relance entrevistas pelos mortais
todo o caminho de ítaca
está armadilhado de feitiços
e o arquipélago assombrado
por circes fulgurantes
no oriente
saram-se os tormentos dos homens
com sorrisos inebriantes
e mãos balsâmicas de volúpia
musas atlânticas
semeiam obsessões
nos sulcos da cabeça
e divertem-se ninfas a pescar pescadores
nas margens do eufrates
do reno do nilo e do amazonas
no rio de janeiro
e de março e de agosto
há seios morenos
a amamentar as loucuras viris
por toda a parte
adensa-se um aroma
que ata os mortais irremediavelmente
aos mais ténues cabelos das eleitas
ó impossível de achar
logo aqui
na esquina da minha rua
é por isso que agora me nasce
um tumor de desconfiança
por dentro dos sonhos
pode lá isto ser o verdadeiro amor?
tudo porque ultimamente
tenho estudado muito mais
geografia
Anthero Monteiro, Desesperânsia,
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2003