quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Carta













Imagem in
www.revista.brasil-europa.eu/



Lanço as palavras ao papel

como pescador calmo
lança os barcos ao rio.
Só no fundo, no fundo inviolado,
contraio e espalmo
as minhas mãos, mãos de afogado
morrendo à sede.

- Meu amor estou bem -

Quando te escrevo,
ponho os olhos no teu retrato
pendurado nos ferros da minha cama

para que as palavras tenham o sabor exacto
de quem me ouve,
de quem me fala,
de quem me chama.

«Meu amor estou bem»

Ontem vi a Primavera
numa flor cortada dos jardins.
Hoje, tenho nos ombros uma pedra
e um punhal nos rins.

«Meu amor estou bem»

Se a morte vier, querida amiga,
à minha beira, sem ninguém,
hei-de pedir-lhe que te diga:

«Meu amor estou bem»

Luís Veiga Leitão, Longo Caminho Breve,
Lisboa, Imprensa Nacional.Casa da Moeda, 1985