quarta-feira, 24 de junho de 2009

Canção do Rei de Tule




Estátua de Castilho, mandada erigir pela Câmara Municipal de Lisboa, em homenagem ao poeta invisual. É da autoria de Leopoldo de Almeida e foi inaugurada, na Av. da Liberdade, em 27 de Maio de 1952


Cf. revelarlx.cm-lisboa.pt






Reinava, em Tule, algum dia
Um bom rei, tão fino amante,
Que, até morrer, foi constante
À dama com quem vivia.

À hora do passamento
Deixou-lhe ela um vaso de oiro,
Que foi do real tesoiro
O mais falado ornamento.

Punham-lho sempre na mesa;
Só por aquele bebia;
E o choro que então vertia
Causava a todos tristeza.

Vendo o seu termo chegado,
Repartiu pelos herdeiros,
Os bens 'té aos derradeiros,
Excepto o vaso adorado.

Foi isto em jantar de mágoas
Que el-rei deu à fidalguia,
Em torre herdada que havia
Ao rés das marinhas águas.

Como el-rei houve bebido
O seu último conforto,
Co braço já quase morto
Levanta o vaso querido.

E por não deixá-lo ao mundo
Da janela ao mar o atira;
Ondeia o vaso revira,
Enche-se, e desce ao profundo.

No mesmo triste momento
Em que o vaso se abismava,
O rei seus olhos cerrava,
Soltando o último alento.

António Feliciano de Castilho, versão do Fausto de Goethe

Ver outras versões da célebre balada de Goethe, imediatamente antes e depois deste post.