sexta-feira, 19 de junho de 2009

De regresso ao rochedo







Foto inportugalia.free.fr






animais milenários
os rochedos ajoelharam na fome das ondas
e adormeceram submissos
no sono dos lustros
curiosas
vieram as águas espiolhar
os indícios da nossa presença um dia
e levaram-nos todos há muito para o largo

o que é feito da brisa das tuas palavras
ou das palavras da tua brisa
e do sal de todas as tuas salivas
e dos meus dedos que aprenderam no mar
todas as redes e rendilhados da insídia?

está tudo no fundo dos pélagos
a alimentar os peixes que vão devorando as tardes
e eu sou mais um animal petrificado
rendido e de joelhos
perante a voracidade
do infinito

Anthero Monteiro, Desesperânsia,
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2009, 2.ª ed.