sexta-feira, 26 de junho de 2009

Praia









Foto A.M.





Brincávamos na areia. Os nossos passos
eram naqueles dias a cadência
a música do sol

Ó estilhaços do tempo ainda vivos
projectados num filme que regressa
ao ritmo das ondas
e fica ao nosso alcance, até ao fim
da tarde pouco a pouco devorada
pla sombra desses toldos

Dunas esquivas e pinhais
tão perto do que foi a minha infância
entre o riso dos primos e o mar
amigo de Brandão de António Nobre
batido pla nortada

Brincávamos na areia Como eu queria
roubar de novo a luz a essas praias
jogar ao prego -------- adivinhar
nas vozes infantis algum presságio
do céu ou do inferno - uma certeza
para sempre fiel a esse mundo

Fernando Pinto do Amaral, Poemas Escolhidos (1990 - 2007),
Alfragide, Publicações Dom Quixote, 2009

N. em Lisboa em 1960. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas. Mestrado e Doutoramento em Literatura Portuguesa. Professor do Departamento de Literaturas Românicas da Fac. de Letras de Lisboa.
Publicou seis livros de poesia, um romance, ensaios e traduções várias.
Crítico literário no JL, Público e Diário de Notícias, entre outros.
O seu "Fado da Saudade", cantado por Carlos do Carmo, recebeu em Espanha o Prémio Goya para a melhor canção original em 2008. (In Op. cit.)