segunda-feira, 8 de junho de 2009

O poeta que fazia chover...




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http://feiradolivrodoporto.pt/blog/



À hora exacta, estávamos prontos, eu e o Luís Carvalho, para fazermos a apresentação da 2.ª edição do meu livro de poesia DESESPERÂNSIA, que tem agora a particularidade de incluir um prefácio de Manuel Poppe. Iríamos ler, de forma mais ou menos dialogada, uma colagem de textos retirados do livro. Estante montada, microfones ligados, público à espera, tudo se preparava para a função.

Foi aí, quando já olhávamos para o caderno dos poemas, que a chuva se antecipou. Logo todos se precipitaram para debaixo do pequeno abrigo de onde íamos soltar a voz. O abrigo, porém, não abrigava: era apenas uma rede a fingir de coberto...

Nada que eu não esperasse... A editora, num acesso de optimismo, logo veio acalmar-me: que era chuva de pouca dura, que era sinal de felicidade e sucesso... O que costuma dizer-se dos casamentos copiosamente molhados...

Perpassaram-me pela mente várias recordações em sucessão repentina: o meu próprio casamento, com a noiva vestida de arminhos e uma catarata, feita bênção dos céus, a cair impiedosa; o lançamento do meu primeiro livro, com a livraria a ser invadida por dezenas de guarda-chuvas (estavam cerca de 200 pessoas apinhadas) e a água a entoar, no passeio fronteiro, um pranto desabrido; o mesmo cenário no dia de lançamento do 2.º livro; um raio sobre a Escola Secundária Manuel Laranjeira, desligando as luzes, no momento em que eu agradecia a todos os que participaram na apresentação do meu livro sobre o poeta maldito que deu o nome ao estabelecimento. E, recuando uns 30 anos no tempo, o dia da minha chegada a Cabo Verde, onde fui recolher dados para um livro didáctico publicado mais tarde: ouvíamos umas mornas na cálida noite acabada de nascer, quando, sorrateira e mansa, a irmã chuva veio visitar a ilha de Santiago, que a não via já há longos 5 anos!... Nos dias seguintes, caiu de tal modo que um dos dias foi decretado feriado e eu não pude fazer o trabalho previsto, por estarem encerradas as repartições públicas.

Não é por acaso que, num dos poemas do livro apresentado, há um poema intitulado "Testamento", onde se pode ler: "Deixo-vos a chuva companheira de todas as minhas glórias".

Mas, no sábado passado, na Feira do Livro do Porto, após aqueles primeiros momentos de confusão, a chuva decidiu ter pena de nós e logo amainou para se cumprirem as palavras da nossa querida editora. Foi possível ler os poemas e ficar com a certeza de que também esta edição foi abençoada pelos deuses. Aos mortais, nestas questões de chuva ou sol, só lhes resta dizer: Amen!