segunda-feira, 15 de junho de 2009

Colho a paciência do velho pescador...










Colho a paciência do velho pescador.
Horas e horas curvado na sua linha, o braço
flexível, o dorso visitado
pelas mãos da brisa. Aroma de sal
no rosto. Amigo dos peixes
o que retira da água são algas,
limos. Teço uma coroa de palavras
para a sua cabeça calcinada. Uma gaivota
pousa a seu lado - comovida
com a paciência do homem. Colho-a
bem colhida, nestas horas que passei,
curvado noutra linha,
a vê-lo pescar.

Casimiro de Brito, Livro das Quedas,
Lisboa, Roma Editora, 2005