segunda-feira, 15 de junho de 2009
Gratidão
Foto A.M.
Quero olhar-te nos olhos e ver-te mar
trémulo e multímodo e incomensurável
Quero contemplar-te com o vagar dos pescadores
que põem volúpia e paciência nos anzóis
e pescam na linha do horizonte
o perpétuo retorno das manhãs
Não julgues que desejo conquistar-te
ou dominar a força das marés
Só quero o meu quinhão de eternidade
a parte que me toca da beleza
por ser amante dos oceanos indomáveis
É que eu paro a olhar-te e a extasiar-me
a engrandecer-te mais se é possível
multiplicar as vagas as areias
dilatar a fronteira do infinito
por isso o teu sorriso reverbera
no mínimo eriçar das águas vívidas
e vens mostrar-te ansiosa e irrequieta
ao meu olhar submerso de outras águas
É isso que me deves afinal
É essa a gratidão dos oceanos
que me beijam os pés humildemente
Anthero Monteiro, Canto de Encantos e Desencantos,
V. N. Gaia, Corpos Editora, 2005, 2.ª ed.
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