escondido agora num alçapão
a fingires-te pedrado
com apenas cinquenta e dois centilitros de vida
a primeira foi há tempos na rua de belmonte
às duas e meia da matina
nas imediações do pinguim café
levavas no corpo uma carraspana de versos
e nem sequer ouviste a minha saudação
bem sei que só cá vieste ver o sol
mas ninguém esquece como eras capaz
de acendê-lo numa cave à meia-noite
através da neblina dos cigarros dos copos e de todos os excessos
como fazias das segundas memoráveis domingos
e arranjavas maneira de as palavras se abrirem em granadas ou corolas
e como eternizavas os que cedo morrem
como tu supostamente amados dos deuses
cansaste-te de nós e sais porta fora
a pensar certamente que se Freud
vejo-te pronto para emigrar para o pólo norte
um frasco com o cordão umbilical
para teres sempre à mão as raízes
e a mala transbordante de poemas para ler aos pinguins
onde vais amigo? os deuses podem bem esperar
quem disse que eles amam seja quem for
quem te ama somos nós e exigimos-te connosco
além disso estás equivocado sobre os pinguins
eles não existem no ártico
seja como for
convém avisar os ingleses
para que não te deixem passar
Anthero Monteiro, inédito
01/09/08