Que cantam os poetas andaluzes de agora?
Que olham os poetas andaluzes de agora?
Que sentem os poetas andaluzes de agora?
Cantam com voz de homem, mas onde estão os homens?
Com olhos de homem olham, mas onde estão os homens?
Com peito de homem sentem, mas onde estão os homens?
Cantam, e quando cantam parece que estão sós.
Olham, e quando olham parece que estão sós.
Sentem, e quando sentem parece que estão sós.
Será que Andaluzia já não tem ninguém?
Que nos montes andaluzes já não há ninguém?
Que nos mares e campos andaluzes não há ninguém?
Já não haverá quem responda à voz do poeta?
Quem olhe o coração sem muros do poeta?
Tantas coisas morreram, que só resta o poeta?
Cantai alto. Ouvireis que outros ouvidos ouvem.
Olhai alto. Vereis que outros olhos olham.
Pulsai alto. Sabereis que outro sangue palpita.
Não é mais fundo o poeta no seu escuro subsolo
encerrado. O seu canto ascende ao mais aprofundo
quando, solto no ar, já pertence a todos os homens.
Rafael Alberti, Antologia Poética, Porto, Campo das Letras, 1998
Tradução de Albano Martins