domingo, 28 de setembro de 2008

A metáfora


Encontro o Mestre e digo-lhe que há poetas
que recusam a metáfora
e o Mestre sorri.
A metáfora é apenas a metáfora, diz ele,
e não vale a pena ser a favor nem contra a metáfora,
nem a favor nem contra seja o que for.

As coisas são e não são
à margem
dos poetas com assento
em casas de comércio,
diz o Mestre,
enquanto almoça.

A realidade vale exactamente o que vale o nosso olhar.
A realidade é um peixe, o peixe nosso de cada poema.
E o poeta é uma criança… Um menino
que segue pelos caminhos com bolas etéreas
a subir no ar.

O poeta é um menino com olhos de menino
e uma dor muito funda no seu peito de menino.
O poeta atravessa os pátios da infância
e vai feliz, dizendo
que as breves metáforas que lança ao ar
são apenas planetas de sabão a explodir
sucessivamente sobre a cabeça do mundo.

José Fanha, in O Soldadinho de Chumbo