segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Os poetas
Ao Albano Martins
É preciso ler os poetas
na sua língua
com rodelas de tomate
e um fio de azeite
ao correr de cada verso.
É preciso chorar
as lágrimas que eles insistem
em soltar no silêncio
de indecisas madrugadas.
É preciso ouvir
o modo como caminham cantando
contra os muros revestidos
pelo arrepio das barbáries.
É preciso aprender com eles
a arte tranquila de habitar a brisa
em Maio
e dedilhar
o alaúde lunar
por baixo dos aloendros.
É preciso dizer que eles são poetas
perigosíssimos seres de olhos carregados
do mais doce sumo das cerejas.
São poetas e voam
como pombas na sílaba do mel.
São poetas e guardam com horror
a memória de terras
profanadas.
Nascem em Lisboa
Dublin
em Granada ou num gueto
de Varsóvia.
Se alguém te perguntar
ó meu irmão
diz que eles são poetas.
Bebem pétalas caminham
sobre a água das palavras.
São poetase
venham de onde vierem
nasceram sempre ao teu lado
meu irmão
na raiz
do perfeito coração.
José Fanha, in O Soldadinho de Chumbo
http://zefanha.blogspot.com/
É preciso ler os poetas
na sua língua
com rodelas de tomate
e um fio de azeite
ao correr de cada verso.
É preciso chorar
as lágrimas que eles insistem
em soltar no silêncio
de indecisas madrugadas.
É preciso ouvir
o modo como caminham cantando
contra os muros revestidos
pelo arrepio das barbáries.
É preciso aprender com eles
a arte tranquila de habitar a brisa
em Maio
e dedilhar
o alaúde lunar
por baixo dos aloendros.
É preciso dizer que eles são poetas
perigosíssimos seres de olhos carregados
do mais doce sumo das cerejas.
São poetas e voam
como pombas na sílaba do mel.
São poetas e guardam com horror
a memória de terras
profanadas.
Nascem em Lisboa
Dublin
em Granada ou num gueto
de Varsóvia.
Se alguém te perguntar
ó meu irmão
diz que eles são poetas.
Bebem pétalas caminham
sobre a água das palavras.
São poetase
venham de onde vierem
nasceram sempre ao teu lado
meu irmão
na raiz
do perfeito coração.
José Fanha, in O Soldadinho de Chumbo
http://zefanha.blogspot.com/