segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Poetogénese

E após três dias de intenso trabalho, antes que finde Setembro, continuamos a reunir, nesta Praça, todo o tipo de poemas subordinados ao tema MALDITA POESIA. No próximo mês mudaremos de assunto.
Mas também convém respirar um pouco e talvez... reflectir sobre este já imenso acervo de textos, em que se entrecruzaram poemas mais clássicos e mais modernos, poemas de ontem e de hoje, poetas de várias escolas e ideologias, as mais diversas formas de pensar sobre o próprio acto de criação poética. Numa Praça convivem todos. É assim que a queremos, apesar de uma evidente selecção. Só assim a poesia mostra que está viva e nós também, porque não queremos escamotear a sua história tão velha como o mundo ou estrangulá-la com imposições e limites.
São múltiplas as concepções sobre a Poesia. Basta ver o conceito que transpira dos dois últimos poemas postados acerca da própria criação poética, aquilo a que poderíamos, salvo erro, chamar Poetogénese.
Bukovski concebe o acto criador como uma espécie de Big Bang, um parto espontâneo, e o poeta uma espécie de Deus ou, no mínimo, um eleito à espera do momento propício. Para Casimiro de Brito e Rosa Alice Branco, o poema é fruto de uma «batalha silenciosa» (a tal hesitação entre som e sentido, de que fala Valéry) e é filho de um parto induzido e doloroso: um bisturi apura-o e depura-o, extraindo-lhe os ruídos, para que, enfim, possa oferecer-se como uma música muito próxima do silêncio.
Pessoalmente, acerca desta questão poetogenética, gosto de pensar que as duas formas são possíveis, umas vezes excluindo-se, outras completando-se. Mas o acto poético parece-me um pouco mais complexo. A meu ver, vários processos poderão nele comparecer, simultaneamente ou não: a aspiração, a inspiração, a transpiração e a conspiração. Para não me alongar, traduzo estes termos para outros, ainda que não totalmente equivalentes: vocação, invocação, acção e provocação.
Reparem: eu disse "simultaneamente ou não". Por isso, tudo me parece um pouco mais complicado e talvez seja assunto sobre o qual nos devamos debruçar mais atentamente numa próxima reflexão.
Entretanto, prossigamos com a nossa compilação poemática.