sábado, 27 de setembro de 2008
Dos poetas
ternos caloteiros do corpo dos outros
ladrões de cheiros carinhos que vêm agarrados
mentirosos como um gato mais as liberdades
não sei se por andar rotos falar sozinhos
se por muitos e bons pinóquios bem capazes
de um golpe de estado d’alma às vezes
os poetas…
doidos bobos de reis que os mandam rir
quando certas palavras os despem vão trair
paneleiros de luxo arruaçando o povo
rixeiros de peluche estudantes chumbados
sem os quais os outros não vão às mulheres
não estudam não passam nunca são melhores
os poetas…
disparo? não disparo? para os malmequeres
morrem a ler a sua morte nos jornais
profetas da tristeza traficantes de ciúmes
e que estranhas putas se falam com os deuses
inocentes portadores de um vírus desgraçado
que não se pega mete medo só os mata a eles
os poetas…
parvos mediuns mulas de carga do vão sonho
ao jogo bebem noites e descaem-se nos segredos
carrancas de nau de pedra de repente vivos
abaixo a poesia! longe pode-se ouvi-los
ovelhas negras sitiando o poder aos lobos
mas o caralho meus senhores é que nem mortos
os poetas…
Joaquim Castro Caldas, do baú,
Esposende, Silêncio da Gaveta, 1999
Poeta, “actor de poesia, saltimbanco, lunático praticante, diseur a tempo inteiro”, sem contar dezenas de ofícios que exerceu, para sobreviver, no Norte de África, na Europa e em Portugal, nasceu em Lisboa em 1956, mas estabeleceu-se no Porto no final da década de 80, onde, durante sete anos, dinamizou as famosas noites de poesia das segundas-feiras, no café Pinguim, à Rua do Belmonte. Foi ainda apreciado redactor principal do extinto guia da cidade, “Metro”. Publicou 11 livros, entre os quais: do baú (1999), impressões digitais dos deuses (2001), Convém Avisar os Ingleses (2002), Só cá vim ver o sol (2003), Mágoa das Pedras (2007). Faleceu, aos 52 anos, vítima de doença prolongada, no dia 31 de Agosto último, no Porto, onde, em vários locais, se continua a praticar, à sua imagem e semelhança, o culto das sessões de poesia em várias espaços de diversão nocturna e teatros, conceito que ele criou e difundiu: «a minha função é divulgar, da forma que posso, a utilidade da língua, o prazer da língua» (JN, 01/09/2008). Muito lhe devem os poetas, os diseurs e a literatura em geral.
Esta é uma pequena homenagem de A PRAÇA DA POESIA:.
ladrões de cheiros carinhos que vêm agarrados
mentirosos como um gato mais as liberdades
não sei se por andar rotos falar sozinhos
se por muitos e bons pinóquios bem capazes
de um golpe de estado d’alma às vezes
os poetas…
doidos bobos de reis que os mandam rir
quando certas palavras os despem vão trair
paneleiros de luxo arruaçando o povo
rixeiros de peluche estudantes chumbados
sem os quais os outros não vão às mulheres
não estudam não passam nunca são melhores
os poetas…
disparo? não disparo? para os malmequeres
morrem a ler a sua morte nos jornais
profetas da tristeza traficantes de ciúmes
e que estranhas putas se falam com os deuses
inocentes portadores de um vírus desgraçado
que não se pega mete medo só os mata a eles
os poetas…
parvos mediuns mulas de carga do vão sonho
ao jogo bebem noites e descaem-se nos segredos
carrancas de nau de pedra de repente vivos
abaixo a poesia! longe pode-se ouvi-los
ovelhas negras sitiando o poder aos lobos
mas o caralho meus senhores é que nem mortos
os poetas…
Joaquim Castro Caldas, do baú,
Esposende, Silêncio da Gaveta, 1999
Poeta, “actor de poesia, saltimbanco, lunático praticante, diseur a tempo inteiro”, sem contar dezenas de ofícios que exerceu, para sobreviver, no Norte de África, na Europa e em Portugal, nasceu em Lisboa em 1956, mas estabeleceu-se no Porto no final da década de 80, onde, durante sete anos, dinamizou as famosas noites de poesia das segundas-feiras, no café Pinguim, à Rua do Belmonte. Foi ainda apreciado redactor principal do extinto guia da cidade, “Metro”. Publicou 11 livros, entre os quais: do baú (1999), impressões digitais dos deuses (2001), Convém Avisar os Ingleses (2002), Só cá vim ver o sol (2003), Mágoa das Pedras (2007). Faleceu, aos 52 anos, vítima de doença prolongada, no dia 31 de Agosto último, no Porto, onde, em vários locais, se continua a praticar, à sua imagem e semelhança, o culto das sessões de poesia em várias espaços de diversão nocturna e teatros, conceito que ele criou e difundiu: «a minha função é divulgar, da forma que posso, a utilidade da língua, o prazer da língua» (JN, 01/09/2008). Muito lhe devem os poetas, os diseurs e a literatura em geral.
Esta é uma pequena homenagem de A PRAÇA DA POESIA:.