domingo, 28 de setembro de 2008

Os poetas

Nunca os vistes,
Sentados nos cafés que há na cidade,
Um livro aberto sobre a mesa e tristes,
Incógnitos, sem oiro e sem idade?

Com magros dedos, coroando a fronte,
Sugerem o nostálgico sentido
De quem rasgasse um pouco de horizonte
Proibido...

Fingem de reis da Terra e do Oceano
(E filhos são legítimos do vício!)
Tudo o que neles nos pareça humano
É fogo de artifício.

Por vezes fecham-lhes as portas
- Ódio que a nada se resume -
Voltam depois, a horas mortas,
Sem um queixume.

E mostram sempre novos laivos
De poesia em seu olhar...

Adolescentes! Afastai-vos
Quando algum deles vos fitar!

Pedro Homem de Mello, «O Rapaz da Camisola Verde» (1954), in Poesias Escolhidas, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1983