domingo, 18 de outubro de 2009

Caldeirada

Em vésperas de caldeirada o outro dia
Já que o peixe estava todo reunido
Teve o goraz a ideia de falar à assembleia
No que foi muito aplaudido

Camaradas principia a ordem do dia
É tudo aquilo que for poluição
Porque o homem que é um tipo cabeçudo
Resolveu destruir tudo pois então

E com tal habilidade e intensidade
Nas fulguranças do génio
Que transforma a água pura numa espécie de mistura
Que nem tem oxigénio

E diz ele que é o rei da criação
As coisas que a gente lhe ouve e tem que ser
Mas a minha opinião, diz o pargo capitão
Gostava de lha dizer

Pois se a gente até se afoga
Grita a moga por o homem ter estragado o ambiente
Dar cabo da criação esse pimpão
Isso não é decente!

Diz do seu lugar tá mal o carapau
Porque por estes caminhos
Certo vamos mais ou menos ficando todos pequenos
Assim como “jaquinzinhos”

Diz então o camarão a certa altura
Mas o que é que nós ganhamos por falar?
Ó seu grande camarão, pergunta então o cação
Você nem quer refilar?

Se quer morrer, diz a lula toda fula
Com a mania da cerveja e dos cafézes
Morra lá à sua vontade que assim seja
Para agradar aos fregueses

Diz nessa altura a sardinha prá taínha
Sabe a última do dia? A pescadinha já louca
Meteu o rabo na boca
O que é uma porcaria!

Peço a palavra gritou o caranguejo
Eu que tenho por mania observar
Tenho estudado a questão e vejo a poluição
Dia e noite a aumentar

Cai do céu a água pura
E a criatura pensa que aquilo que é dele é monopólio
Vai a gente beber dela e a goela
Fica cheia de petróleo!

A terra e o mar são para o cidadão
Assim como o seu palácio
Se um dia lhe deito o dente
Pago tudo de repente ou eu não seja crustácio!

É um tipo irresponsável grita o sável
O homem que tal aquele
Vai a proposta prá mesa ou respeita a natureza
Ou vamos todos a ele!

Alberto Janes , in O Melhor de Amália – CD - Vol. III, 1997
(escrito especialmente para Amália)
Cf. www.portaldofado.net