quarta-feira, 12 de novembro de 2008

da vida humana 1

dizem que vais nascer; que há métodos de
determinar-te o sexo. que a tua mãe deseja
respirar o teu sopro, tua mobilidade,
teu mamar; tirar o teu retrato.

para quê prever-te o nome ou preparar
roupas rendadas? ninguém há-de cumprir-te
que te cumpras, e tentarão salvar-te a alma
com água e óleo e sal.

virás a amar alguém? a adoecer
apesar das vacinas? a sentar-te
nas margens do real a contemplá-lo
tristemente? jogarás à bola, ao pião,

mais tarde ao sete e meio?
para quê ser loquaz do teu futuro?

Vasco Graça Moura, Poesia 1963-1995,
Lisboa, Círculo de Leitores, 2001